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Notícias

03/04/2018

Articulação AEE nas escolas

Em Comunidade de Aprendizagem educar é um ato coletivo

Em Comunidade de Aprendizagem educar é um ato coletivo

Conheça estratégias que diferentes escolas têm utilizado para mobilizar e fortalecer o trabalho conjunto entre gestores, professores e voluntários

Na escola de Educação Infantil Vereador Kiyoshi Tanaka, em São Bernardo do Campo (SP), estudantes do Ensino Médio de uma escola vizinha acompanham atentos meninos e meninas de dois a três anos em rodas de leitura e grupos interativos. Há 165 km dali, na EMEF Professora Maria Dulce David de Paiva, localizada no município de Tremembé (SP), familiares e moradores do bairro se revezam ao longo da semana para ocupar o pátio da escola e brincar junto com as crianças durante o recreio.

As escolas em questão são exemplos de Comunidade de Aprendizagem. Nelas, estudantes de diferentes idades, funcionários, moradores do entorno e familiares são convidados a atuar como voluntários e participar ativamente do projeto educativo.

 

Ao abrir-se para a comunidade, essas escolas ampliam as possibilidades de interação, valorizam as diferentes inteligências culturais e tornam-se espaços de aprendizagem mútua, onde todos aprendem e todos ensinam.

Derrubar os muros simbólicos que separam a escola da comunidade não é tarefa simples, mas os resultados são sempre muito potentes. Não existe uma fórmula para aproximar famílias e comunidades do projeto educativo, mas algumas experiências podem apontar caminhos possíveis para esta integração.

 

Escolas parceiras

Em São Bernardo do Campo, a parceria entre a EMEB Vereador Kiyoshi Tanaka e uma escola particular da região já dura três anos. Segundo nos conta a coordenadora pedagógica Michele Alexandrino Gomes, todo começo de ano ela reúne-se com a equipe gestora do Colégio Stagio para atualizá-la sobre o projeto educativo e combinar como será a participação dos voluntários.

“Eles (os voluntários) são estudantes do Ensino Médio e participam nos Grupos Interativos e nas Tertúlias Literárias, que na verdade a gente faz na forma de padrinhos de leitura (neste formato voluntários mais velhos fazem a leitura para os pequenos, que ainda não têm competência leitora), porque nossos alunos têm entre dois e três anos”.

Grupo Interativo com crianças e mediação de estudantes voluntários, na EMEB Vereador Kiyoshi Tanaka

No início, a interação entre os adolescentes e os pequenos dentro da sala de aula foi vista com desconfiança por parte da equipe escolar, o que para a coordenadora é bastante compreensível. “É preciso abertura para compreender de que lugar cada um fala e construir chão onde há insegurança, dar a base necessária para encarar o novo. O novo na Educação ainda assusta muito, não é à toa que toda mudança demora décadas para se concretizar. O que Vygotsky escreveu em 1930 está sendo ‘a sensação’ hoje”, afirma Michele.

Para entender e superar os receios iniciais, dois caminhos foram tomados: ouvir os medos e debatê-los abertamente, como parte dos processos formativos; e testá-los em uma experiência-piloto com participação de voluntários, onde a equipe pudesse ter a chance de observar, na prática, os erros e acertos, e propor os ajustes necessários.

“Fizemos a experiência-piloto com voluntários, e os professores observavam o que dava certo, o que não dava e o que precisava ajustar. Na hora de aplicar na sala, já tinha diminuído as inseguranças e desconstruído alguns medos”, relata a coordenadora, para quem os resultados desta interação têm sido surpreendentes.

“Os adolescentes que recebemos aqui sempre se posicionam com muito respeito, com muito cuidado. E os resultados têm sido incríveis não só para nossos alunos, mas para eles próprios. Temos relatos dos professores e dos pais destes estudantes contando sobre as transformações que o projeto tem causado na vida deles”, afirma Michele.

Grupo Interativo de jogos matemáticos com crianças e voluntários na EMEB Vereador Kiyoshi Tanaka

Sair do lugar de conforto, onde era sempre o centro dos cuidados, e aprender a cuidar de outras crianças foi a transformação vivida por Bianca Barnes Bachi, de 16 anos, uma das voluntárias da escola parceira.

“Sou filha única, não cresci com uma criança mais nova do que eu por perto, meus primos ou tinham a minha idade, ou eram mais velhos”, relata Bianca. “Eu saí de um lugar onde era somente eu, para outro onde tinham mais de 12 crianças correndo, brincando. Foi um choque inicial, mas no final de tudo as crianças estavam abertas conosco. Contavam pra mim de seus pais, seus avós, o que iam jantar, quem ia buscá-los. Não existia mais estranheza, nos tornamos amigos e eu pude ter a linda experiência de descobrir como era amar uma criança”, completa a jovem.

 

Sonhos realizados

Além da parceria entre escolas, familiares das crianças também estão presentes como voluntários. Eles se dividem com os adolescentes na mediação das Tertúlias e Grupos Interativos, integram a Comissão Mista e se empenham junto com a equipe escolar na realização dos desejos coletivos colhidos na Fase dos Sonhos.

Casinha de brincadeira simbólica restaurada por voluntários na EMEB Vereador Kiyoshi Tanaka

“Com ajuda de voluntários nós revitalizamos a biblioteca da escola, confeccionamos brinquedos com pneus para o parque e mesas temáticas com carretéis de madeira para realização de cantos de brincadeira simbólica. Também pintamos juntos o muro da escola, reformamos uma casinha de cimento que as crianças usam para brincar e cultivamos uma horta. Este ano, inclusive, um pai vai fazer uma ação específica de meio ambiente, com atividades de compostagem e plantio com as crianças”, conta Michele, animada.

“Se o erro é de fato o caminho para o acerto, a gente precisa se permitir construir este percurso e fazer as adequações. Acho que não podemos desanimar nas dificuldades iniciais porque o projeto é muito potente”, conclui.

 

Mobilizar a cidade

Em 2015, as escolas da rede municipal de Tremembé, no interior de São Paulo, abriram suas portas para a participação da comunidade. Desde então, a Secretaria de Educação articula diversas iniciativas para aproximar voluntários das escolas.

Entre os dias 26 e 29 de março, o município realizou, pelo quarto ano consecutivo, sua Semana do Voluntário: uma grande campanha anual pensada para reconhecer o trabalho feito por voluntários já atuantes e mobilizar familiares, moradores locais e novos parceiros interessados em contribuir.

Fernanda de Morais Zanitti e Victor Fernando Narezi, coordenadores de Projetos da Secretaria de Educação da Estância Turística de Tremembé, contam que a semana foi concebida para criar uma cultura do voluntariado nas comunidades e que hoje, após quatro anos, as ações foram expandidas para toda a cidade.

Voluntários conduzem aula de música para alunos da EMEF José Inocêncio Monteiro, em Tremembé (SP)

A programação da semana acontece em todas as unidades da rede municipal, da Educação Infantil ao Ensino Fundamental. “As escolas estão fazendo formações, retomando os sonhos, realizando os murais, e fazendo apreciações dos Grupos Interativos, das Tertúlias e de outras Atuações Educativas de Êxito proposta pela Comunidade de Aprendizagem”, explica Fernanda.

A organização das atividades é conduzida pelas equipes diretivas das escolas, com auxílio dos professores e dos próprios voluntários. E a Secretaria apoia com um amplo processo de divulgação. “Nós vamos até as TVs e rádios locais e criamos estratégias de comunicação que não são focadas apenas nos pais de alunos, a cidade é convidada”, pontua Victor.

Estudantes, equipe escolar e voluntários espalham material de divulgação da Semana do Voluntário no comércio local

Para mobilizar e efetivar a integração de agentes educativos das comunidades no dia a dia das escolas, o município criou um programa de voluntariado, integrado ao calendário oficial da cidade. Durante as datas comemorativas como o aniversário da cidade, as festas juninas ou o Sete de Setembro, a Secretaria monta barracas de atendimento do “Seja um voluntário da escola” em pontos visíveis dos bairros e na praça central.

Atualmente, as 18 escolas do município - todas elas integradas à rede de Comunidade de Aprendizagem - contam com a colaboração de cerca de 250 voluntários que participam do processo educativo, compartilhando experiências, auxiliando professores no desenvolvimento das atividades e relacionando os conteúdos acadêmicos com a cultura local.

 

Compartilhar saberes

Um exemplo que ficou conhecido entre os educadores da cidade é a história de Inocêncio Lazarin Neto, um senhor aposentado que cultivava uma bela horta em seu quintal e foi convidado pela diretora da EMEF Anna Queiroz de Almeida e Silva para construir uma horta na escola com a ajuda das crianças.

“Os alunos o chamam de tio Inocêncio, ele virou tio da escola inteira. O convite foi feito em 2015 e Seu Inocêncio permanece até hoje cuidando da horta junto com as crianças e participando de grupos interativos quatro vezes por semana. Ele é uma pessoa encantadora”, diz Renata de Souza Barquete Alvarenga, que foi coordenadora pedagógica da Anna Queiroz, e que hoje atua na EMEF Professora Maria Dulce.

“Acredito nos conhecimentos e afetos trazidos de fora”, afirma Renata. Na escola onde trabalha atualmente, familiares e crianças sonham e brincam juntos. A partir do desejo das crianças de melhorar as brincadeiras no recreio, familiares e pessoas da comunidade que participam como voluntários, desenharam um projeto para transformar o pátio da escola num grande espaço de brincar.

“Buscaram doações com algumas casas de tinta de Tremembé e os voluntários se organizaram para pintar amarelinha, jogo da velha, tudo no chão. Agora estão montando grupos de pais que se revezam nos intervalos para vir pelo menos uma vez por semana brincar junto com as crianças na hora do recreio e ensinar as brincadeiras antigas”, conta a coordenadora.

Mudança de paradigma

Para ultrapassar as contribuições pontuais e abrir-se efetivamente para a participação da comunidade é preciso que a escola repense suas relações de poder e entenda a educação como um ato coletivo.

A escola não é nossa. A escola é da comunidade. Sua equipe pode mudar, mas a comunidade permanece ali.

“Acredito no diálogo e na democracia. A escola não é nossa, ela não é propriedade nossa. É preciso descentralizar o poder, tanto em sala de aula, na relação adulto-criança, como descentralizar o poder de quem faz a gestão da escola”, afirma a coordenadora pedagógica Michele Alexandrino Gomes.

Para ela, a presença de voluntários na escola trouxe benefícios ao trabalho de gestão, pois sua integração efetiva no Projeto Político Pedagógico converteu-se num estímulo ao diálogo igualitário. “Os conflitos e diferenças de opinião vão aparecendo e a gente vai aprendendo a fazer as coisas por meio do diálogo, aprendendo a abrir mão de ideias nossas e deixando de ser egocêntricos. Minha vontade não tem que prevalecer!”, ressalta.

Na mesma linha, Cristina Fonseca de Oliveira, diretora da EMEI Professora Maria Pia Iori, de Tremembé, defende: “A escola não é nossa. A escola é da comunidade. Sua equipe pode mudar, mas a comunidade permanece ali”.

Para promover a Participação Educativa da Comunidade, além de uma mudança geral de concepção, algumas ações iniciais são importantes. Criar canais de escuta e estratégias de comunicação adequadas, investir na formação da equipe escolar e dos próprios voluntários, valorizar os saberes locais buscando integrá-los ao currículo, atuar com transparência compartilhando planos e dificuldades com a comunidade. Estas são algumas dicas que coletamos a partir das experiências de São Bernardo do Campo e Tremembé.

Para saber mais sobre propostas e estratégias para mobilização, integração e engajamento dos voluntários leia nosso caderno sobre Formação de Voluntários, consulte o Guia do Voluntário e bom trabalho!

 

Por Bárbara Batista

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