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Notícias

02/07/2020

AEE nas escolas

Tertúlias virtuais: espaços de escuta, acolhimento e construção coletiva

Bárbara Batista

Formadores de diversas regiões do país se conectam para dialogar sobre obras clássicas e os dilemas do contexto atual

Tertúlias virtuais: espaços de escuta, acolhimento e construção coletiva

O fechamento de escolas ao redor do mundo em decorrência da pandemia do Covid-19 coloca estudantes, familiares, professores e gestores educacionais diante de desafios desconhecidos e de velhos problemas não resolvidos. No Brasil, profissionais da Educação se desdobram e se equilibram na difícil missão de garantir a aprendizagem em aulas a distância, sem alargar ainda mais desigualdades educacionais históricas em um contexto onde 60% dos domicílios não têm acesso a computador e 28% sequer têm acesso à internet

Ademais, estamos todos aprendendo a lidar com medos, incertezas e perdas que a crise atual nos impõe. Para conversar sobre isso, acolher as angústias e dividir estratégias de ação, a equipe de formadores de Comunidade de Aprendizagem (CA) no Brasil tem organizado, desde abril, encontros semanais de tertúlia online com técnicos de secretaria, gestores de escolas e professores. A ideia é que a iniciativa possa ser disseminada nas redes municipais e estaduais. 

Saiba mais: Caderno de formação - Tertúlias Dialógicas

Para Priscila Collet, coordenadora da equipe de formadores de CA no Brasil, as Tertúlias têm ajudado a criar, em meio à crise, um momento prazeroso de troca e escuta, ao mesmo tempo em que proporciona o aprofundamento da prática pedagógica entre participantes de diversas regiões do país. "No primeiro encontro, fizemos a Tertúlia Literária e foi uma comoção: as pessoas se emocionaram, falaram de seus medos, das relações com familiares próximos, foi um espaço de acolhimento mesmo. No segundo encontro, de Tertúlia Pedagógica, construímos juntos uma problematização da prática", relata a coordenadora. 

 

As Tertúlias virtuais têm reunido formadoras(es) de diversas regiões do país

 

A partir dessa vivência, a equipe de formadores oferece apoio para que organizações parceiras e secretarias de Educação levem a experiência das tertúlias virtuais para suas redes de ensino. Ana Cristina Falcão, coordenadora pedagógica do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (ICEP), define as tertúlias virtuais como um alento e um espaço para pensar sobre temas profundos e manter os vínculos. "A tertúlia faz com que cada um, do seu canto, pense o coletivo e o individual, num exercício de ouvir o outro, que é o que a gente mais precisa", defende.

Áurea Pires, técnica de Educação de Potim (SP), acompanhou os primeiros encontros online e agora organiza a prática em seu município. Segundo ela, a iniciativa tem ajudado a aliviar a solidão e a insegurança trazidas pelo isolamento. "É importante para entendermos que não estamos sozinhos, que na Bahia eles estão com os mesmos problemas, que em São Paulo estão com as mesmas angústias e preocupações. A Tertúlia cria um espaço para falarmos de nossas emoções em um momento que está todo mundo com o emocional muito abalado", comenta a técnica. 

Para o professor Graudio, que é coordenador pedagógico da escola Salustiano Trindade, em São José de Ribamar (MA), participar da Tertúlia Pedagógica online promovida pela secretaria de Educação do Estado do Maranhão foi importante, entre outras coisas, para desmistificar o uso da tecnologia: "nós quebramos barreiras em relação ao estudo online e vimos a importância dessa conexão com o outro: poder colocar o que a gente pensa, ouvir a opinião da outra pessoa e entender que a ideia do aluno protagonista perpassa tudo isso", afirma o professor.

 

Pertinência das práticas dialógicas

Reorganizar a Educação neste contexto de isolamento social é desafiador. Nesse sentido, as tertúlias virtuais foram planejadas para garantir, em alguma medida, a qualidade das interações sociais - que é tão central em CA - e para inspirar a continuidade das práticas dialógicas nas redes de ensino, mesmo a distância. 

Diferente das receitas prontas passadas para professores que se sentem perdidos ao terem que se adaptar aos novos formatos de aula, a Tertúlia propõe uma formação dialógica conectada à realidade. "Não deixa de ser um guia, um modo organizado e sistematizado de fazer, mas que acolhe a angústia do professor à medida que prioriza o diálogo e a escuta de todo mundo", explica Priscila Collet.

Aos poucos, as Tertúlias online têm se apresentado como estratégias bem sucedidas para aproximar as pessoas e garantir a participação ativa de gestores e professores na discussão e construção de soluções coletivas para apoiar as famílias, fortalecer os vínculos e manter estudantes aprendendo durante a pandemia.

Este movimento deixou ainda mais evidente a função social da escola, acredita Ana Cristina Falcão, do ICEP. "A gente vive num país de desafios profundos amplificados com a pandemia. Essa desigualdade educacional não é nova, ela é histórica, estrutural, e se agrava neste momento. Muito se fala sobre o 'novo normal', eu não quero o 'novo normal', prefiro acreditar que a crise sirva para que a gente fortaleça nossas comunidades e supere nossas desigualdades". 

Seja no contexto de distanciamento social, seja num possível retorno das aulas presenciais, ainda imprevisível, os princípios de CA se revelam não como padrões estáticos, mas como guias que nos ajudam a pensar práticas pedagógicas significativas, contextualizadas e baseadas nas interações.

"Depois desse turbilhão, o acolhimento dos alunos, das famílias, das comunidades vai precisar ser muito cuidadoso e as ações educativas têm um papel fundamental nesse processo", afirma Ana, para quem os princípios da aprendizagem dialógica parecem mais urgentes do que nunca: eles lançam luz para que não nos escape a qualidade das relações e o lugar do cuidado, da empatia e da construção coletiva.

 

Como organizar tertúlias online?

A distância física e o uso da tecnologia para comunicação não alteram a natureza da tertúlia dialógica presencial, defende Priscila Collet. "Você tem a garantia da escolha de um texto clássico, da leitura prévia, da separação de trecho, o uso de alguma ferramenta onde você consiga visualizar as demais pessoas, garante o turno de palavras. E ainda tem a possibilidade de juntar pessoas de diferentes regiões do país numa conversa comum, que não conseguiríamos juntar num encontro presencial", afirma a formadora.

 

Tertúlia Artística virtual a partir da obra de Maurits Cornelis Escher

 

Perde-se o calor da presença, do gesto, da corporalidade e do olho no olho, que só alcançamos nas tertúlias presenciais, mas mantém-se a natureza da Atuação Educativa de Êxito e incorporam-se benefícios trazidos pelos recursos tecnológicos. Nestes encontros virtuais, participantes têm usado o chat, por exemplo, para trocar referências e conteúdos que enriqueçam o diálogo realizado durante a tertúlia. "As pessoas trazem informações, citam lives, links com referências e isso ajuda a fortalecer a dimensão instrumental da tertúlia. E o registro fica ali, em tempo real. É um ganho incrível", avalia Priscila.

Desde abril, já foram organizadas tertúlias virtuais nas diferentes modalidades - literária, pedagógica, artística e musical - e, de lá pra cá, cresceu o número de participantes. A partir da experiência desses encontros e de contribuições trazidas pelo material original produzido pela equipe nacional de Comunidades de Aprendizagem da Colômbia, organizamos um guia com diversas dicas para apoiar a realização das tertúlias nas redes. São recomendações sobre planejamento prévio, uso de ferramentas, papel do mediador e outros pontos que podem ajudar na realização da prática a distância. Acesse o guia aqui.

 

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